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Terminal de Hiaces. Mais de 30 mil contos para os cofres municipais
Sociedade

Terminal de Hiaces. Mais de 30 mil contos para os cofres municipais

Simultaneamente ao processo de ordenamento do trânsito na zona baixa da capital do país, facilitando a livre circulação de pessoas, viaturas e bens, a introdução do terminal de Hiaces traz consigo um outro ganho para o município da praia – o financeiro – traduzido em mais de 30 mil contos anuais em receitas municipais.

Explicando. Consta que circulam nas estradas de Santiago mais de seis centenas de viaturas Hiaces. Desse número pelo menos cinco centenas aportam a capital do país, umas diariamente, outras em dias alternados, oriundas da Cidade Velha, Santa Cruz, Assomada, Calheta, Tarrafal, São Domingos, São Lourenço dos Órgãos, São Salvador do Mundo, no transporte de pessoas e bens.

Para usar o terminal, cada viatura é obrigada a pagar uma senha, cujo valor varia de acordo com o percurso. Para Tarrafal a senha para cada viagem custa 200 escudos. As viaturas que fazem o percurso Assomada, Calheta e Santa Cruz pagam 150 escudos para cada viagem. Já as viaturas de Cidade Velha e São Domingos pagam 70 escudos por senha.

Ora, até este momento, as viaturas do Tarrafal têm conseguido fazer apenas uma viagem por dia. Algumas nem isso. Quem, com muito esforço, conseguir uma viagem é obrigada pagar uma senha de 200 escudos.

As da Cidade Velha conseguem, em média, três viagens por dia, pagando assim 210 escudos diários. As que fazem o percurso Assomada, Calheta e Santa Cruz conseguem, em dias de movimento, duas viagens diárias, pagando 300 escudos.

Uma viatura que faz pelo menos uma viagem diária no percurso Praia/Tarrafal terá uma despesa mensal de seis mil escudos em senha, equivalente a 72 mil escudos anuais. Já uma viatura que faz pelo menos duas viagens no percurso Praia/Assomada/Calheta/Pedra Badejo, terá uma despesa mensal de nove mil escudos, equivalente a 108 mil escudos anuais. As do percurso Praia/Cidade Velha/São Domingos, fazem em média três viagens diárias, equivalentes a 75 mil 600 escudos anuais.

Tendo em conta a quantidade de viaturas que circulam de e para a cidade da Praia, temos que esta movimentação toda resulta num grande movimento financeiro, em cash, assumido directamente pelos bolsos dos proprietários de Hiaces.

Com efeito, feitas as contas, estas taxas representam cerca de mais de 30 mil contos de receitas municipais que vão entrar anualmente nos cofres da Câmara Municipal da Praia, suportadas por estes chefes de família, que ainda pagam impostos e outras contribuições ao Estado.

Assim, um grupo de hiacistas procurou Santiago Magazine para manifestar a sua indignação em relação a esta medida, que considera lesivas aos seus negócios, aos passageiros e aos ajudantes, sendo que estes últimos acabaram todos no desemprego.

“Todos nós saímos a perder. A Câmara Municipal da Praia é a única entidade que fica a ganhar com esta medida”, observa um proprietário de Hiace, lembrando ainda os “mais de 60 ajudantes que ficaram sem qualquer rendimento”.

Para além destes, os passageiros, sobretudo rabidantes, também ficaram prejudicados, uma vez que a partir de agora têm que apanhar autocarro ou táxis para poderem sair ou chegar ao terminal, arcando com mais despesas, que, em certos casos, atingem o dobro daquilo que pagavam antes.

“São constrangimentos que a Câmara Municipal da Praia deve rever, nos termos da promessa já feita pelo presidente Óscar Santos”, relembra um condutor, que estranha a proibição, por exemplo, de apanhar passageiros em localidades como Safende ou Achada São Filipe.

Para além das senhas, todos os condutores estão obrigados a adquirir um crachá, por 850 escudos, renovável semestralmente, representando mais mil e 700 escudos de despesas anuais. Uma viatura que é conduzida pelo proprietário e pelo condutor as despesas com o crachá ficam em dobro, porque cada um desses usuários é obrigado a adquirir o seu. O crachá do condutor não serve para o proprietário e vice-versa.

Todas essas despesas, associadas à redução de número de viagens, em função do tempo de espera no terminal, estão a provocar prejuízos financeiros avultados aos operadores, podendo, a prazo, desembocar no desencorajamento dos proprietários destas viaturas privadas de transporte público, que têm desempenhado ao longo dos anos um grande trabalho social no transporte de pessoas e bens de e para a capital do país.

Na verdade, são estes investidores privados os maiores dinamizadores da economia real da maior ilha do arquipélago, sendo os responsáveis pela entrada e saída de milhares de pessoas que procuram diariamente a capital do país para trabalho, negócio, estudos e outros afazeres burocráticos.     

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Redação