• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
Obra “A Origem Social e a Trajetória dos Estudantes Cabo-Verdianos no Ensino Superior” de Antonieta Ortet apresentada na Praia
Elas

Obra “A Origem Social e a Trajetória dos Estudantes Cabo-Verdianos no Ensino Superior” de Antonieta Ortet apresentada na Praia

Editado pela Universidade de Cabo Verde, o livro é o resultado da tese de doutoramento em Ciências Sociais, defendida pela autora em 2015, e foi apresentado ao público pelo Professor Doutor, Adilson Semedo, no dia 5 de abril.

Em nota enviada à redação de Santiago Magazine, a autora informa que a obra é trabalho de investigação levado a efeito sobre a origem social dos estudantes cabo-verdianos no ensino superior, tendo chegado à conclusão de que, dos quatrocentos e cinquenta e oito estudantes inquiridos, a frequentar as instituições nacionais, não se registou a presença de descendentes da elite política, governamental, nem mesmo da oposição, nessas instituições.

Com o acesso às universidades estrangeiras facilitado, sobretudo em Portugal, no Brasil, nos Estados Unidos da América, na Inglaterra, entre outros países, esses estudantes buscam essas instituições para realizarem suas formações. São os que, na linguagem popular cabo-verdiana, se designam de filhos de “Kópu leti”, os quais, desde a mais tenra idade, frequentam as instituições educacionais, socialmente consideradas, as mais elitistas do país. Demonstram maior otimismo quanto às suas expetativas de inserção no mercado de trabalho cabo-verdiano, após o término da licenciatura, ou de seguir a formação pós-graduada. Consequentemente, entre esses estudantes efetiva-se o fenómeno de mobilidade social pela via da reprodução do tipo intergeracional, pois, é expectável que, após a formação, ocupem os cargos mais elevados nas categorias profissionais, preferencialmente, semelhantes aos dos seus pais.

Assim, fica claro que o surgimento do ensino superior, de nível licenciatura, em Cabo Verde, a partir do ano 2000, ao invés de combater as desigualdades escolares, as exponenciou, na medida em que a execução da política de inversão[1] contrasta-se, por um lado, com um contexto social, onde a maioria das famílias é desfavorecida economicamente e, por outro, com a redução do investimento público, em especial, a diminuição do montante da bolsa destinada a cada estudante. Assim, os estudantes desfavorecidos que frequentam as instituições nacionais encontram-se em situação desvantajosa, uma vez que o valor da bolsa se cinge apenas ao pagamento da propina, carecendo, assim, de meios financeiros para pôr cobro às demais despesas da formação que se revelam ainda mais dispendiosas. Assim, são obrigados a mobilizarem recursos provenientes das suas redes de relações sociais familiar e/ou extrafamiliar ou, ainda, do exercício da atividade profissional das mais baixas categorias profissionais e auferem baixas remunerações. Alguns recorrem a outros meios, os quais designam de “spidiente”, que evidenciam a prática da prostituição, roubo e/ou trafico de drogas, para fazer face às situações de carência económica em que frequentemente se encontram.

As suas expetativas de inserção no mercado laboral são caracterizadas por um elevado grau de incerteza dadas as condições adversas do mercado laboral cabo-verdiano na atualidade, marcado por uma fraca absorção dos diplomados com o nível superior. É crível que alguns destes venham a experimentar a situação de contra mobilidade social, isto é, poderem vir a encontrar-se em piores situações profissionais do que as dos seus progenitores.

As estratégias de sobrevivência escolar dos estudantes desfavorecidos economicamente põem a nu a ineficácia das medidas de política dirigidas a esse nível de ensino, contrariando, deste modo, os princípios da Constituição cabo-verdiana no que diz respeito à democraticidade do ensino superior no país e, ao mesmo tempo, os discursos dos políticos, ao proferirem que, a nível nacional, as suas preocupações se direcionam para a implementação de boas escolas de ensino superior e de boa qualidade do ensino, quando, em contrapartida, colocam os seus filhos nas universidades estrangeiras, os quais dispõem de melhores condições de estudos.



[1] Programa do Governo para a VI Legislatura, referente ao período 2001 a 2005

 

Partilhe esta notícia