Entrevista

Entrevista

“A frustração de Sérgio Corrá é que não consegue ser presidente da CM da Boa Vista. Por isso condiciona tudo, empata tudo”

• Por Hermínio Silves
• 12 de Jul de 2023

Walter Évora, presidente da Assembleia Municipal da Boa Vista, foi o principal visado das declarações fortes do líder da bancada do PP na Boa Vista, Sérgio Corrá, na entrevista a este diário digital da semana passada. Sem papas na língua, Évora devolve as acusações: “O Sérgio sabe que é ele quem tem a mania de negociar lugares para familiares”. O politico boavistense confia, ao contrário de Corrá, que “Boa Vista vai vencer e vai triunfar”, e põe todas as fichas no actual presidente, Cláudio Mendonça: “Eu tenho um bom presidente da CM da Boa Vista, que é o Cláudio Mendonça, que está a fazer um bom trabalho e tem 100 por cento do meu apoio”.

Santiago Magazine – O líder da bancada do Partido Popular na Boa Vista, Sérgio Corrá, disse em entrevista a este jornal digital que lobbies familiares e não regionais estão a condicionar o desenvolvimento da ilha e apontou o seu nome.

Walter Évora – Isto é um absurdo completo. Sentimos necessidade de reagir, efectivamente, porque as declarações do senhor Sérgio Corrá acabam por ferir a honra do presidente da Assembleia Municipal e da minha família. Ele acusa o presidente da Assembleia Municipal da estar a colocar familiares na Sociedade de Desenvolvimento Turístico da Boa Vista e Maio…

- Não, ele quererá dizer "proteger "familiares.

- Sim, proteger, mas é um absurdo completo. A SDTIBM é uma instituição controlada pelo Governo de Cabo Verde, que tem maioria no controlo da sociedade. Não acredito que o presidente da AM da Boa Vista, que é de um partido diferente da do governo, tenha condições para fazer alguma influência.

- Mas tem familiares na SDTIBM?

- Sim, há pessoas que ali trabalham e que são meus familiares. Mas essas pessoas estão aí desde a altura em que a mulher dele era funcionária da SDTIM e nessa altura eu nem era deputado nacional, nem presidente da AM da Boa Vista. As pessoas que estão não precisam da minha proteção, ao contrário dele que chega ao ponto de negociar lugares para familiares dele. Portanto, o senhor Sérgio sabe que ele é que tem essa prática de negociar as suas posições políticas na AM em função de lugares a familiares dele.

Portanto, da parte do presidente da AM da Boa Vista não há nenhum lobby, nem há condições para o fazer.

«A ilha da Boa Vista está fora do Governo desde 2007, não tem ninguém no governo da República desde 2007, ou seja, 16 anos sem termos nenhuma voz dentro do governo do PAICV, nem do governo do MpD. Isso cria problemas porque na hora de se tomar decisões, a nível do Conselho de Ministros não há ninguém aí que bata a mão pela ilha».

- Qual a sua relação com o investidor alemão que pretende construir vivendas, para fins turísticos na zona da Farinação? Qual o seu envolvimento neste negócio?

- Nós temos uma noção que na Boa Vista há perda de investimentos e perda de investidores. E eu, perante esta situação e perante aquilo que eu já percebi que são lobbies regionais a tentar mobilizar investimentos para outras paragens, tenho tentado mobilizar investimentos para a ilha da Boa Vista. Seja a nível municipal seja a nível de sectores da competência estrita do Governo.

Temos uma zona particular, aí na Farinação, que foi demolida, e que tinha um antigo armazém, uma zona degradada, cheia de dejectos humanos… portanto, uma zona que precisa ser edificada, valorizada.

- Mas esse terreno não é do município da Boa Vista.

- Não pertence à Câmara Municipal da Boa Vista, verdade. Mas há vários investidores interessados nessa zona. Quando recebemos qualquer de projectos de investimento, nós reencaminhamos ao Governo, para fazer a ponte, alertar o Ministério das Finanças de que há  investidores interessados nessa zona. Não há necessidade de se criar essa nuvem de especulação. O Governo já disse que não tem dinheiro para investir nessa zona mediatamente, a CMBV já disse que não tem condições para investir nessa zona. E então, a zoa vai ficar assim? Nós estamos é a tentar mobilizar investidores para investir na Boa Vista.

- E esses lobbies regionais?

- Os lobbies regionais que referi é o seguinte: há membros do governo que devido à sua ligação a determinadas ilhas puxam os investimentos para essas ilhas. A ilha da Boa Vista está fora do Governo desde 2007, não tem ninguém no governo da República desde 2007, ou seja, 16 anos sem termos uma única voz nem dentro do governo do PAICV, nem do governo do MpD. Isso cria problemas porque na hora de se tomar decisões, a nível do Conselho de Ministros não há ninguém aí que bata a mão pela ilha.

É isso a que refiro quando falo de lobbies regionais, e o senhor Sérgio Corrá vem deturpar, afirmando que há lobbies para favorecer famílias, empresários… não é verdade. Estamos a falar num nível macro, para que haja pessoas a defender a Boa Vista. Em vez de o senhor Sérgio fazer a mesma coisa, tentar mobilizar investimentos, faz o contrário, tenta empatar, condicionar. Porquê? Porque tem um interesse específico: o senhor Sérgio Corrá quer ser presidente da Câmara, mas não tem como. A frustração dele é essa, daí que tudo que ele puder condicionar e empatar, condiciona.

Esta questão da Praça do Largo Santa Isabel: ele diz que fomos articular cm uma empresa das Canárias para trazer uma solução para a praça. Como é que isto é possível? A praça foi um concurso público.

- Mas o líder da bancada do PP diz que a empresa (Bucan) que veio assumir a obra não tinha sido sequer admitida no concurso público.

- A empresa Bucan que ele fala não tem nenhum acordo com a empresa atual que faz a construção (Construções Figueiredo Soares). A nossa viagem às Canárias nada tinha a ver com isso. Mas é preciso dizer que os empresários da Bucan nos ajudaram a contactar as autoridades canarienses, como em Fuerteventura. Fomos lá porque querem nos apoiar num projecto que se chama Fazenda Municipal.

- O que é isso?

- É um projecto para produção de pasto para pecuária. E é um projecto que existe nas Canárias e que queremos implementar na Boa Vista. Foi através desses empresários da Bucan que contactamos as autoridades das Canárias, negociamos e aprovaram. Estamos na fase de desembolso.

Nada a ver, repito, com as obras do Largo Santa Isabel. O problema do senhor Sérgio é que quando voltou-se a arrancar com a empreitada da obra ele quera que fosse um empresário italiano, seu amigo, a fornecer as pedras basálticas. Essa obra tem cerca de 2 milhões de pedras. Ele me levou lá pessoalmente para ver as instalações desse empresário, que obviamente não vou revelar o seu nome aqui. Aquilo não passou junto do empreiteiro e ele zangou-se.

- Quer dizer, critica lobbies mas faz lobby…

- Isso mesmo. 

«O senhor Sérgio Corrá votou a favor do Orçamento e Plano de Actividades da CM. Aliás, os três eleitos do PP votaram a favor do Orçamento, mais os cinco deputados do PAICV e abstenção dos cinco deputados do MpD. Por isso digo, há uma perseguição do senhor Sérgio à sua eleita, Kátia Murgia, que é vice-presidente da AM».

- E a SDTIBM? O que se passa com a Sociedade?

- Eu tenho tido uma posição muito crítica em relação à SDTIBM. Mesmo nas minhas intervenções na Assembleia Nacional, se o senhor Sérgio estivesse atento saberia disso. A SDTIBM tem uma estrutura de custos muito elevada e não está a cumprir com as suas funções. Desde 2019 que não mobiliza um investimento para a Boa Vista. O último investimento foi o hotel da TUI, que se iniciou, parou e desde então nenhum outro investimento foi mobilizado.

É uma estrutura que tem que se rever o seu formato, porque assim como está não serve à Boa Vista.  Agora, o Governo decidiu dar aval à Sociedade para pedir empréstimo bancário para financiamento da praça, só que a Sociedade está com um nível de exposição bancária tão elevada que os bancos já não dão dinheiro. Os bancos condicionam qualquer tipo de financiamento à SDTIBM devido ao nível de exposição. É um caminho que devia ter sido acautelado, porque o governo poderia usar seus canais, instituições o mesmo através do Tesouro e financiar a praça, mas escolheu-se a via da sociedade e os bancos não dão dinheiro. Assim acabamos por perder muito tempo. Agora está-se a trabalhar numa nova solução, através de empresários.

- Assim como está, a SDTIBM pode ser extinta? É um tema sobre a mesa?

- Eu já fiz esta pergunta ao senhor ministro das Finanças, sobre o que se pretende, de facto, com Boa Vista e Maio. Porque foi criada essa sociedade para Boa Vista e Maio e agora se cria a Zona Económica Especial do Maio, que tem as suas competências próprias, incentivos próprios. E a SDTIBM como é que fica? Maio vai continuar a pertencer à sociedade?

- Há sobreposição de instituições.

- Eu penso que há duplicação de instituições, duplicação de custos. Tenho as minhas enormes reservas em relação a ter duas instituições a funcionar desta forma. Mas será o governo a esclarecer e os municípios terão de ter uma palavra. Mas nunca uma posição radical, como a do senhor Sérgio Corrá, que é vender a sociedade. A SDTIBM detém a propriedade da maioria dos terrenos da Boa Vista e do Maio e ele quer vender isso. Tá a ver os riscos inerentes a esse tipo de raciocínio desse senhor?

- Ele diz que por causa do fraco ou zero desempenho da SDTIBM nenhum investidor acredita mais na Boa Vista.

- Não é verdade. O senhor Sérgio tem uma visão negativista da Boa Vista. Ele não acredita e tenta activamente passar essa imagem a investidores.

- Mas ele faz isso porquê, sendo que vice na Boa Vista, tem negócios, família

- Terá de ser ele a responder. Mas é próprio da personalidade dele: vê corrupção em tudo em quanto, vê tudo negativo. Felizmente, há esperança, há pessoas a acreditar sim na Boa Vista e Boa Vista vai vencer e triunfar.

Se Sérgio fizesse 10% daquilo que fazemos estaríamos melhor. Ele não faz.

Dou-lhe um exemplo: há uma zona da Santina, aí na Santa Bárbara, ele diz que tem de ser preservada porque é uma zona histórica. Um chafariz é histórico! Pronto. Ele disse que é contra a venda dessa zona que é um património, mesmo em hasta pública – sempre defendeu venda de bens públicos em hasta pública. Agora veja: na última Assembleia ele fez um requerimento para ser distribuído a todos os deputados, enfim um documento de um amigo seu italiano que reivindica a compra dessa Santina por 60 cêntimos (cerca de 60 escudos) o metro quadrado. Isto é de uma incoerência tamanha.

A CMBV não tomou nenhuma decisão em relação a essa zona. Tinha a pretensão de fazer ali uma Escola Náutica, mas está-se agora a analisar uma outra zona por uma questão de acessibilidade.

- A seu ver, o líder da bancada do PP na Boa Vista tem idas e vindas?

- Tenho que esclarecer, para já, algumas coisas que o Sérgio Corrá disse na entrevista a Santiago Magazine. O senhor Sérgio Corrá votou a favor do Orçamento e Plano de Actividades da Câmara Municipal. Aliás, os três eleitos do PP votaram a favor do Orçamento da CM, mais os cinco deputados do PAICV e abstenção dos cinco deputados do MpD.

Por isso digo, há uma perseguição do senhor Sérgio à sua eleita, Kátia Murgia, que é vice-presidente da AM. O mandato é dela e não do partido. Nós já dissemos ao senhor Sérgio, que líder da bancada, que para haver suspensão terá de ser a própria eleita a solicitar e a justificar as razões por que pede suspensão do mandato. Não pode ser o Sérgio a vir pedir a suspensão do mandato da deputada porque ele é que manda na sua bancada. Aliás, o senhor Sérgio nessa matéria utiliza o Partido Popular em função dos seus objectivos e interesses pessoais. Ele já foi do PAICV quando lhe interessava, já foi do Forças Vivas, quando lhe interessa, agora é do Partido Popular, porque lhe interessa e vai manietando, utilizando essas instituições políticas para atingir seu objectivo que a sede do poder de ser residente da CMBV. Ele quer ser governante da Boa Vista.

- E o Walter, tem essa pretensão ainda?

- Eu já fu candidato à CMBV, não venci as eleições, aceitei os meus resultados. Fui candidato a deputado nacional, fui eleito por duas vezes, hoje estou a meio do mandato de presidente da AM e não pretendo me recandidatar. Eu tenho um bom presidente da CM da Boa Vista, que é o Cláudio Mendonça, que está a fazer um bom trabalho e tem 100 por cento do meu apoio.

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