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Madonna Batuka & Dino D’Santiago
Cultura

Madonna Batuka & Dino D’Santiago

I

Parece-me que quem criou o título da quarta faixa do álbum Madame X, se calhar, é um brasileiro habituado ao neologismo. Qualquer dia irei criar o verbo “Frutidesfrutar” por aglutinação dos verbos Frutificar + Desfrutar. Escreve-se (Batuque é Batuque; Morabeza é Morabeza; na língua escrita e falada em Cabo Verde). Escreve-se (Fado é Fado; Saudade é Saudade; na língua escrita e falada em Portugal. Feeling é Feeling, também, na língua escrita e falada in English Speaking Countries. Não podemos inventar algibeiras para neologismos. E pronto.

 

Videoclipe Madonna «Batuka»

 II

O videoclipe Madonna «Batuka» da cantora norte-americana, a diva da Pop Music, e, da saltimbanca vestida de forma sóbria, como uma elegante e enérgica pavoa de loiraças tranças, de pérolas no pescoço, mágica e louca onde, há uma conjugação perfeita de sombras e de luzes (com a idade de querer ver outras coisas que a levou, também, para sonhos e sons longes, sobre uma longa vida com o olhar do mundo doutro ponto de vista, que não tem anos, mas tem tempo). Filmou-o, em Portugal, mostrou a cantar e a dançar ao lado da Orquestra de Batucadeiras Cabo-verdianas. (É sem sombra de dúvidas a maior publicidade cultural jamais, prendada à nação Cabo Verde no Mundo). Não podemos fingir de inocentes e de ingénuos. Opportunities have no other name but Knowing how to grasp them.

Dino D’ Santiago

 II

Lisboa é hoje, um enorme mosaico da interculturalidade. A emigração cabo-verdiana, na terra De Pascoaes & Pessoa, atravessou um longo e inimaginável deserto. A nação afirma-se, cada vez mais, with notoriety and opportunity. Em tempos passados onde, tudo era apelidado de anormalidade os Homens dos casebres, sobretudo, o Dino D’ Santiago dos calões, das memórias do betão, dos tijolos e das argamassas geladas da vila de pescadores, na Quarteira, das noites douradas, das atormentadas insónias, e, daqueles que mordiscavam luxuosos charutos ao lado das envernizadas de lábios carnudos, com a lua já gasta decrescente que, esmerilavam o mar prateado da praia da Quarteira das ostentações, das mordomias perfumadas, the big mansions cercadas por jardins com variedades multicolor da Lantana Camara «Verbenaceae» a conviverem vis-à-vis com os casebres, sem luz e sem água canalizada. Pode-se escrever crónicas sobre crónicas de mil fantasias do mundo mágico; mesmo sujando as mãos para quem suja as crónicas.

Madame X

 III

O enredo do videoclipe Madonna “Batuka” é de uma narrativa empolgante de olhos vítreos: sem dramas, sem surreais à sua volta, não só a nível de olhares, mas sobretudo, a de perceções enérgicas da paixão e da liberdade. (Ela conseguiu reinventar, recriar e reatualizar o narcisismo neste álbum Madame X). Respira-se muita espiritualidade à mistura, com coros e sonoridades grandiosas e de uma poderosa batida de dança mágica com as batucadeiras trajadas - tipicamente - à moda d’ilha de Santiago: com blusas brancas d’algodoeiro, simbolizando a paz, a espiritualidade, a inocência e a virgindade; com saias pretas cortadas, malandramente, nas coxas buliçosas, por pano de terra, para ganharem o compasso da doce sedução, e, cabeças amarradas com distraídos lenços - cor da luz - e balaios a respirar o tradicional, e, a marcar uma certa originalidade estética da estilista Joana badia da Damaia. Com a Madonna e as batucadeiras caminhando e cantando, em terras batidas e, nalguns casos, até, se revelaram proféticas abrindo portas com “Aleluia” e “Amém”, a desafiarem as ondas que “cuspilhavam” de ciúme nas rochas na praia de São Julião em Sintra, que pareciam que rebentavam do Inferno. (Ali, onde, se pode desafiar, respirar e recarregar as baterias).

Condão Espiritual

 IV

Este forte condão espiritual também enfardela e transporta com a força do vento, em redemoinhos, um pouco, uma certa vivência religiosa a abraçar e a celebrar a vida e a buscar: a paz e o silêncio. D’ Aleluia e D’Amém (!) Esta canção do 4º álbum que sucede, a Rebel Heart, nos gestos contagiantes das batucadeiras e da rainha da Pop é uma autêntica celebração à vida pela qual se luta entre - a terra e o mar -, para dizer que não há fronteiras nas praias e certos de não haver delimitação do espaço territorial para o emigrante ilhéu, na busca do pão e d’evasão. (Com a idade de querer ver outras coisas que a levou, também, para sonhos e sons longes sobre uma longa vida com o olhar do mundo doutro ponto de vista, que não tem anos, mas tem tempo). A canção associada ao videoclipe, magistralmente, interpretada pela Madonna dá para gritarmos, juntos, que “A solidão é uma trincheira, o lugar onde você é você”. Este você é Madonna das canções: La Isla Bonita e Like a Virgin \ I made it through the wilder somehow \ made it through\ Didn’t know lost \ Was until I found you

Cicerone - mor

 V

Dino D’ Santiago, o cicerone - mor musical, fez a diva viajar pelo caminho da melancolia da guitarra portuguesa, do recolhimento e da meditação, como o silêncio deixado pelas cortinas lilases das igrejas góticas ou barrocas, e, outro caminho é dos acordes da renovada sonoridade, tridente, com a roupagem dançante das arrebatadoras “txabetas” das batucadeiras.

Coração da Narcisa & Rembrand

 VI

O cicerone-mor, depois de ter conquistado o coração da narcisa, agora (!) Agora deverá fazer, duas promissoras e simpáticas propostas, à rainha da Pop music. A primeira é de uma memorável viagem à capital holandesa para assistir ao restauro da mais famosa, enigmática e ambiciosa obra de Rembrandt “A Ronda da Noite”, concluída em 1642, em que os trabalhos devem durar um ano e meio, com uma equipa multidisciplinar de 20 especialistas. Sabemos que desta vez o público pode ver tudo na galeria de honra do Rijksmuseum, onde, todos os anos, mais de 2 milhões de pares d’olhos visitam a imponente peça. Madonna poderá celebrar uma grande homenagem aos 350 anos após a morte de Rembrandt com a apresentação, no local, o álbum Madame X. Antes, do espetáculo os promotores poderão oferendar telespectadores algumas variedades de tulipas que deixaram de ser somente negras.

Batucadeiras & Tabancas

 VII

A segunda proposta é com rumor da mestiçagem e da coscuvilhice não saloia, ao mesmo tempo mais despojado e mais apaixonado, como uma torrente de lavas. Quem adivinhará? O cicerone-mor e artista Dino D’Santiago poderá fazer uma proposta à Madonna para o lançamento do álbum Madame X no caldeirão da mestiçagem: Cidade Velha (!) Toda a ilha de Santiago vai ser mobilizada para receber, em apoteose, com grupos de batucadeiras e de tabankas a desfilarem com as cores da nossa Bandeira. Assim, celebraremos, Madonna «Batuka». Brabu Dino D’Santiago.

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Redação