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Depois de ouvir palestra de Germano Almeida, grupo civil quer processar juiz que “emitiu ordem de prisão” contra Amadeu
Sociedade

Depois de ouvir palestra de Germano Almeida, grupo civil quer processar juiz que “emitiu ordem de prisão” contra Amadeu

O jurista Germano Almeida disse, no Mindelo, que pela forma como o líder parlamentar do MpD conduziu o processo dava para perceber que o MpD iria aprovar a suspensão do mandato de Amadeu Oliveira. “É isto que magoa”, lamentou o escritor vencedor do Prémio Camões, na palestra que deu ontem ao final da tarde, no Centro Cultural do Mindelo, sobre o caso Amadeu. Depois da aula de Direito dada por Germano Almeida, o público prontificou-se a apoiar a formalização de uma queixa contra o juiz que emitiu a ordem de prisão. Igualmente, essas pessoas querem que este caso seja levado às instâncias internacionais e exigiram uma intervenção firme do Presidente da República.

Segundo Germano Almeida, o problema sobre o caso de Amadeu Oliveira é que se está perante “uma perseguição e vingança”.

“É isto que magoa, na medida em que é a instituição máxima do poder do Estado que procede desta maneira. Poderiam ter emendado a mão na quinta-feira, pelo contrário o que se ouviu da parte dos deputados do MpD foi uma coisa como se fosse uma vingança, como se o Amadeu fosse um terrorista que fosse preciso abater”, explicou o advogado, para quem os deputados “fizeram tudo menos aplicar direito e justiça”.

Para a mesma fonte, o que fizeram ao Amadeu podem fazê-lo a qualquer um e, neste caso, explicou, se o tribunal agiu mal, prendendo Amadeu Oliveira, a Assembleia Nacional tinha a oportunidade de corrigir o erro e não o fez.

Por causa disso, considerou que a assembleia violou deliberadamente a Constituição da República.

“Agindo desta forma os deputados quiseram apenas salvar a face da Procuradoria e dos tribunais sem ter em conta que, desse modo, manchavam para sempre a instituição que tem como função primeira a defesa os cidadãos”, argumentou.

Conforme Germano Almeida, o processo que levou à prisão do deputado, agora com mandato suspenso, foi “extremamente mal conduzido” e ele foi preso e continua lá, há mais de um ano, “por pura vingança de certos magistrados que o apanharam a jeito e o ferraram na cadeia”.

É que, explicou, mesmo que Amadeu Oliveira tivesse realmente ajudado o seu constituinte Arlindo Teixeira a sair do País, e mesmo que este acto tivesse sido um crime, ele nunca deveria estar preso porque ele é um deputado da Nação.

E como deputado, prosseguiu, só poderia ser preso depois de pronunciado por um juiz, por um certo e determinado crime.

“Depois dessa pronúncia a sua prisão seria autorizada pelo plenário da Assembleia Nacional, como aconteceu hoje. Só que o que aconteceu hoje deveria ter acontecido há mais de um ano”, criticou, defendendo que “os procedimentos legais foram todos postergados, atropelados, omitidos”, pelo que “Amadeu Oliveira foi e está ilegalmente preso”.

Processo contra juiz

Germano Almeida considerou que a prisão de Oliveira foi ocasionada simplesmente pelo “abuso do poder” do magistrado, que, desta forma, está cometendo “um crime de prevaricação, previsto no artigo 328 do Código Penal, perante a passividade de tudo quanto é poder ou autoridade no País”.

O crime que está previsto no artigo 328 do Código Penal diz que o juiz que, contra o direito e com intenção ou a consciência de prejudicar ou de beneficiar alguém, no âmbito dos poderes que lhes são conferidos e em processo criminal, proferir despacho ou sentença que tenha por consequência a privação da liberdade de uma pessoa ou a sua manutenção de forma ilegal será punido com pena de prisão de dois a oito anos”, lembrou, afirmando que toda a gente sabe disso e ninguém faz nada.

Neste sentido, lembrando que “a mulher de César não basta ser pura tem que parecer”, o jurista questionou se “as gravíssimas acusações” proferidas por Amadeu Oliveira contra magistrados, ao longo dos anos, ” não têm razão de ser”.

Germano Almeida considerou que tendo o parlamento violando a Constituição de forma tão flagrante fica imperativo que o Presidente da República, como o mais alto representante da Nação, reconheça e assuma que muitas situações estão sendo maltratadas no País e aja em consequência.

“Todos sabemos que a separação de poderes tem limites e tem que ter alguém, uma autoridade para recorrer em situação de aflição. Pede-se e espera-se uma postura do Presidente da República na sua condição de mais alto representante da Nação para que se saiba que o arbítrio não deve mais ter lugar no nosso País”, concluiu o jurista pedindo directamente a José Maria Neves que tome uma posição sobre este caso.

De acordo com o galardoado escritor, sem que a AN estivesse reunida, a Comissão Permanente autorizou a audição do deputado, não obstante, esta ser matéria de exclusiva competência do plenário. “É muito mau que o órgão máximo do poder do Estado, em matéria legislativa, tenha cometido este monumental erro de palmatória e, mais grave, se recusa a reconhecer e corrigi-lo”, assegurou Germano Almeida

“Os procedimentos legais foram todos atropelados e omitidos. A sua prisão não tem origem numa deficiente interpretação da lei. Foi ocasionada pelo abuso de poder de um magistrado, que desta forma está cometendo um crime de prevaricação, perante a passividade de todos os poderes e autoridades”, sustenta, frisando que este crime está previsto no artigo 328º do Código Penal e é conhecido por todas as autoridades. 

Durante o evento, registaram-se ainda intervenções da advogada Maria João Novais e do público que assistiu a palestra como o impulsionador da acção popular Zona Libertada, Manuel Filipe Santos (Futche), do presidente da UCID, João Santos Luís, do líder do Sokols, Salvador Mascarenhas, do histórico fundador e ex-presidente da UCID, Lídio Silva, da ex-deputada Filomena Vieira, entre outras personalidades.

Todos lamentaram a decisão da AN e apelaram a apresentação de uma queixa contra o juiz pelo crime de prevaricação. Igualmente foi pedido a abertura de uma investigação para se encontrar os canais para apresentação de uma queixa internacional contra o Estado de Cabo Verde, enquanto se aguarda uma intervenção firme do PR. 

 

Com Inforpress

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