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Repor o papel dos estudantes cabo-verdianos na Bélgica no período Peri-Independência
Ponto de Vista

Repor o papel dos estudantes cabo-verdianos na Bélgica no período Peri-Independência

"A verdade triunfará, apesar de todos aqueles que a desprezam e a rejeitam."

 

Não sou historiador, muito menos especialista em politica cabo-verdiana, mas só quero contribuir para o estabelecimento da verdade nesse período conturbado da História de Cabo Verde, para os estudantes cabo-verdianos da Bélgica.

A Verdade é como o azeite, mais cedo ou mais tarde, acaba sempre por vir à tona. E, se só foi possível agora (mais vale tarde do que nunca) esta intervenção, fomos inspirados pela publicação do excelente livro do nosso velho companheiro Domingos Mendes Júnior, Diminguinho ou "Dimanche" - Um forte abraço, velho companheiro!! E viva a festa da Independência de 5 de Julho.

E, sem mais demora, vamos ao que interessa: Era pensamento corrente dos PAIGCISTAS "puro e duro" de que a malta estudantil cabo-verdiana na Bélgica era uma comunidade de reaccionários, ignorando por completo o papel preponderante que teve a casa dos estudantes de Cabo Verde, "FACADA", em LOVAINA, para a luta da independência nacional.

Eu quero começar com este exemplo concreto que se passou comigo. Em Verão de 1976, quando vim de férias, como era o meu costume, integrei a caravana do Club Desportivo dos Travadores. Nesta altura, Daniel Pereira era jogador e treinador adjunto do Clube. Ainda não era o famoso historiador que veio a ser e que é. Nessa época era apenas o meu ex-colega do Liceu Adriano Moreira, de alcunha "CABRITO", e Ex-instrutor militar do exército colonial português. Ele teve a ousadia, num dos treinos de futebol, de me criticar, ofendendo-me, como fazendo parte da malta reaccionária de LOVAINA, que ousava contestar o PAIGC.

Não respondi de imediato, por causa da dureza do regime ditatorial do partido único, e por conseguinte, com medo de represálias. Mas a resposta que vou dar agora, só peca por ser tardia, mas já existia. Ora, aí está, meu caro "CABRITO", a serviço de quem perdeste a tua mão direita? Isto só sai agora, mas era o que gostaria de poder responder-te naquela época...

Agora vamos defender com muita honra e orgulho, a posição política dos estudantes cabo-verdianos da Bélgica:

1. Sim, contestamos o PAIGC, mas sem nenhum equívoco, defendemos sempre a independência de Cabo Verde, e tivemos uma grande responsabilidade na consciencialização e politização dos emigrantes na Europa, nomeadamente em França, Holanda e Luxemburgo, tendo participado em vários encontros /debates com Abílio Duarte e Olívio pires, em Rotterdam na Holanda;
2. Na Bélgica, havia três categorias de estudantes, do ponto de vista político em relação ao
PAIGC:

A- A POSIÇÃO Pura e Dura da qual fazia parte Djo Duarte, Engenheiro Delgado e Lucílio Braga Tavares, a quem se juntaria mais tarde, Sílvio Querido;

B - Os apoiantes de Cabral, por conseguinte, PAIGCISTAS convictos, representados por Humbertona, Adão Rocha e Arnaldo Delgado, mais conhecido por "NEGOCE";

C - Por fim, a maior parte da Malta que era a favor da independência, da qual eu fazia parte, mas que contestava a unidade Guiné e Cabo Verde, pelas seguintes razões:
i - Em Cabo Verde, há 10 ilhas, mas existe um só povo, mesmo se o crioulo falado nas diversas ilhas seja ligeiramente diferente;
ii - Na Guiné-Bissau, há várias "tribos" e "dialetos", que não se entendem entre eles;
iii - O Guineense sempre viu o cabo-verdiano como o Neocolonozador, anteriomente, utilizado eficazmente pelo regime colonial na Adminstração;
iv - O Guineense , não fez a luta armada de Libertação Nacional, por ser Govemado por caboverdianos! ! !

D - À parte estava o grupo a que pertencia o falecido ex-presidente Mascarenhas Monteiro, o irmão Manuel Monteiro, e o meu irmão Francisco Fragoso, que por terem abandonado o Partido, se pautaram pela discrição, isto é, pelo silêncio, ao contriário do que escreveu o jornalista, José Vicente Lopes, no seu Livro "Os Bastidores da Independência", citando o falecido ex-presidente Aristides Pereira, que o médico ensaísta, isto é, Dr. Francisco Fragoso, era um dos proscritos, que difamava o partido. Desta infâmia mentira, actualmente, só pode testemunhar para desmenti-la Manuel Monteiro, pois a postura que eles tinham adoptado, era aconselhar quem quisesse saber a verdade sobre o PAIGC, de viajar para Conacri! Esta parte, tem por finalidade de restabelecer uma verdade deturpada, não sabemos com que intenção;

E - Finalmente, a História com o Golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, veio dar razão aos reacionários estudantes da Bélgica. Até hoje não houve nenhuma "mea culpa" da parte do PAIGC/PAICV e muito menos um pedido de desculpa aos visionários estudantes da Bélgica que tiveram um papel importante na consciencialização e politização dos Emigrantes na Europa. Daí a razão desde manifesto, com grito de revolta, em prol do estabelecimento da verdade Histórica e de reconhecimento do devido respeito aos estudantes da Bélgica de Peri-Independência.

Viva a história de Cabo Verde!
Viva 5 de Julho de2019, celebrando os 44 anos de lndependência.

Autor: Zefra (Nome artistístico do Dr. José Manuel Fragoso)
Médico Cirurgião Sénior, Hospital Agostinho Neto (HAN)
Praia aos 11 de Dezembro de 2019.

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Redação