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Fazer Mais, com os Outros!
Ponto de Vista

Fazer Mais, com os Outros!

1. Praia, à noite, bonita e elegante. Luzes que se debruçam sobre o mar e vozes que cantam uma cidade que ama. 

Quem, hoje, se lembra da Praia, sem a marginal, o novo porto, o aeroporto internacional e as luzes. Quem? Quem ainda se lembra do Campo de Concentração do Tarrafal, dos filhos ilegítimos, do analfabetismo, das fomes e das mortandades, dos flagelados do vento leste, da subjugação? Quem? Quem ainda se lembra “o que custou a liberdade e como se ganha uma bandeira”? Quem?

2. Cabo Verde é um país plural. Não se pode, por injusta e empobrecedora, unidimensionalizar a história política recente do país. A história é a que é: devemos assumi-la com honestidade intelectual e vigor de espírito e criar um futuro muito melhor para todos. As tentativas de reescrever a história, conforme maiorias políticas conjunturais, com a mobilização de ressentimentos e de ódios e a inspiração da violência nunca trouxeram bons resultados.

É este país plural, que avançou muito nestes 44 anos de independência, em todos os domínios há importantes ganhos, apesar dos graves desafios pendentes, que teremos de ter em devida conta nos debates públicos.

O desemprego, a pobreza, as desigualdades sociais, a insegurança, a excessiva burocracia, a partidarite aguda, o déficit habitacional, as vulnerabilidades económicas e sociais, as mudanças climáticas, o medo das pessoas e das instituições são fenómenos que devem interpelar-nos a todos nestes tempos agrestes para as liberdades civis e políticas e para a democracia. Nestes tempos em que comemoramos o Dia Nacional dos Direitos Humanos!

As pessoas com receio de não conseguirem ou de perderem o emprego - tal é o índice de partidarização da administração pública - coíbem-se de participar nos assuntos da polis. Os custos de participação, maxime se for em espaços de pensamento divergente ou de contra-argumentação sobre o governo, são muito elevados. Daí, numa sociedade com altos índices de pobreza e muito dependente do Estado, a baixa participação e a passividade da sociedade e da opinião pública em muitos momentos cruciais das nossas vidas.

Tempo de fazermos as pazes com a história política recente do país e de férrea e conscientemente enfrentarmos os enormes desafios do futuro; tempo de reconciliar, de unir, de sarar as feridas, de mobilizar a todos para seguir em frente e fazer face com determinação e ousadia aos desafios com que estamos confrontados; tempo de fazer pontes, de construir consensos, de fazer mais, com todos os outros.

Temos uma história que nos engrandece a todos: os escravos que se revoltaram, os filhos da terra que nunca se acomodaram face às injustiças e às discriminações, os nossos corajosos antepassados, os escritores, os poetas que sonharam e soletraram em versos um melhor futuro para todos, os heróis da independência, os protagonistas das liberdades e da democracia merecem o nosso respeito e reconhecimento.

Conquistamos a independência e a democracia, transformamos um país improvável num país possível, e temos de enfrentar juntos os reptos da modernização e desenvolvimento sustentável no horizonte de 2030.

Mãos à obra, já porque todos juntos podemos.

* Artigo publicado pelo autor no Facebook.

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Redação