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Praia, Santiago, Entrada de Ano Amargurada
Colunista

Praia, Santiago, Entrada de Ano Amargurada

Ainda assim um bom ano para todos!

Não é timbre do santiaguense queixar-se. Mas o problema é que em C.Verde só melhoram aqueles que queixam e têm partidos, jornalistas e deputados que combatem sistematicamente, em todos os fora possíveis, pela visão e implementação do quadro de desenvolvimento estabelecido por e para as suas ilhas. Em Santiago, com exceção de alguns deputados de Santiago Norte, a prestação nessa matéria é insatisfatória (não se fala da Praia por exemplo!) e duvido que os praienses conheçam e aprovam os seus desempenhos dessas entidades inclusive aqueles que estão no governo.

Não entrámos bem porque:

1. Achávamos que a primeira visita do novel ministro para o mar seria para Santiago, sotavento e as outras ilhas que nesse setor conheceram uma paralisia quase total tendo perdido as instituições relativas a administração á altura dessas regiões designadamente para as pescas ( a falha nesse setor abrange ainda as infraestruturas, formação e apoio aos operadores), marítima (permanece a não implantação do IMP regional na Praia, no Santiago Norte e não reforço das representações em boa parte das ilhas) e atraso na reforma portuária abrangendo qualificação de parte do piso no Porto da Praia, seu equipamento, instalação do novo terminal de cabotagem incluindo mais cais, mais rampas roll-on-roll-off, terminal de carga, ampliação/qualificação da gare de passageiros e autonomização/ preparação de um programa de desenvolvimento no quadro da concessão desse porto); houvesse pelos menos indicações nesse sentido…

2. Se o hospital de raiz na Praia é para arrancar este ano, os santiaguenses quereriam ver o início de formação do pessoal, a indicação das valências de tratamento (AVC, diabetes, câncer, diálises e qualidade de diagnósticos e atendimento de urgências seriam as prioridades atendendo ao número exorbitante de óbitos que ocorrem diariamente) e demais detalhes de socialização que normalmente acompanham e catalisam a implementação de projetos importantes neste país;

3. Continua a não sair o parque industrial da Praia ao mesmo tempo que os terrenos que o acolheria estão sendo vendidos para revenda por parte de várias individualidades residentes;

4. Enquanto não materializa a instalação de centro de formação para o mar (marinha mercante, pescas, portos e gestão costeira) em Santiago, para todo o sul, instala-se para outras ilhas (e bem!), inúmeras instituições incluindo a agrícola já existente em Santiago. Para quando a formação para o mar (já devia haver uma comissão de instalação!) para todos em sotavento, intrinsecamente anunciado pelo Sr Secretário de Estado de Educação (ao discorrer sobre a «provável» extensão do escola do mar do mar para sotavento em Santiago) e pelo ex-Secretário de Estado da Economia Marítima ao anunciar, na inauguração da qualificação no cais de pesca da Praia, a descentralização da formação para o mar, que considerei ser um dos melhores ditos de governantes desde que nasci (há quase 60 anos) para o setor do mar para nós cá no sul? Falta implementar! Melhor notícia tinha sido as obras do MCA para o porto e a sempre anunciada autonomização do Porto da Praia, inclusive no atual programa de Governo embora sem dia para implementação

5. Não aceitamos o aumento do custo de água só para Santiago, assim como a continuidade de pagamento de estacionamentos automóveis só na Praia, particularmente no aeroporto da Praia. Isso roça a inconstitucionalidade, particularmente o pagamento no aeroporto quando todos os aeroportos do país têm magníficos parques de estacionamento grátis nos aeroportos;

6. Para a Praia não há oferta de habitações sociais e melhoria massiva das casas inabitáveis que estejam legalmente estabelecidas. Isso não obstante a China ter-se disponibilizado para financiar quatro bairros sociais anunciados três anos atrás e todas as autoridades do país e o governo/outros municípios estejam a reabilitar a ofertar habitações e bairros sociais noutras ilhas e cidades do país. Isto acontece na cidade Praia, com o maior índice de exclusão social habitacional e consequente instabilidade social e insegurança em parte derivadas dessa situação e da maior taxa de desemprego, a par das inconformidades estéticas dos bairros já á entrada da cidade a partir do aeroporto velho;

7. Para o aeroporto da Praia não se anuncia as intervenções necessárias incluindo a opção de construção de um novo conforme transmitido á Pro-Praia num dos encontros com o Sr Primeiro Ministro;

8. Ficámos pasmos com a legislação para atribuir setenta e cinco contos (que todos vamos pagar), somente a gentes de S.Vicente e Santo Antão torturadas num dos períodos do partido único. E os nossos torturados no bairro, na Achadinha no interior de Santiago e quiçá nas outras ilhas? De novo presenciámos atónitos o silêncio dos nossos dirigentes e deputados (exceto o Senhor Presidente da República que incitou a abrangência que insinuo) perante o triunfo já habitual no parlamento e no governo de políticos e partidos que, na maior parte das vezes, intervêm para interesses exclusivas das ilhas que lhes agradam!

9. Parece estar a morrer o anuncio de construção do centro de convenções da Praia que se exige desde o fórum de desenvolvimento de Santiago em 1995. Preocupa-me o facto de apesar de ser anunciado desde o último FIC pelo Sr Primeiro Ministro (que disse que o próximo FIC seria no novel Centro da Praia), como sempre, não houve jornalistas e políticos locais para capitalizarem o anuncio e exercer o habitual lobby que se faz noutros pontos do país para sua materialização em tempo útil! É que já não resta nada mais à Praia e Santiago para sustentar a sua sobrevivência e crescimento pois:

10. O comércio foi dominado por estrangeiros que com os apoios de respetivos governos e capacidade de apossar de terrenos da capital causam a falência dos locais sem tais capacidades competitivas;

11. Os eventos - vocação da Praia - são deslocados quase na sua totalidade;

12. A ligações diretas aéreas que viabilizam a economia da ilha foram descontinuadas, voltando os viajantes com destino a Santiago aos tenebrosos tempos de escalas no Sal; Destrói-se e migra-se a industria de manutenção/reparação do setor aéreo e, na sua essência e totalidade, os serviços do sistema de busca e salvamento aéreo e marítimo

13. Destrói-se as instituições do mar e bloqueia-se as condições infraestruturais, de formação, e as reformas institucionais para a instalação das administrações marítimas, portuárias e das pescas próprias para sustentar as atividades da economia marítima que em Santiago são das mais pujantes do país!

14. No turismo não se viabilizam condições para o seu desenvolvimento na Praia e Santiago incluindo a não dinamização como se fez noutras ilhas para a implantação dos hotéis já negociados e ou em processamentos como o Hilton, os do David Show (no mar ou ilhéu e não no areal de Gamboa!), Sambala Village, Santiago Resort etc a Cidade Velha e Santiago Norte continuam sem qualificação para o efeito;

15. O congestionamento de tráfego automóvel na cidade da Praia agiganta-se sem que as medidas como as indicadas para a o nó na terra Branca e na ponte de Vilanova e eixo da Avenida Cidade de Lisboa merecem urgências e prioridades que outras cidades estão merecendo para os seus problemas;

16. Para Praia não há decisores a anunciarem programação concreta relativo ás plataformas com epicentro cá como o agronegócio, hub dos tics e praça financeira;

17. A atribuição de algumas dezenas de milhares de contos versus 0,005% das receitas tributadas do país prevista no quadro de atribuição do Estatuto Especial e Administrativo da Praia, realçam a circunstância da Praia contar, no presente contexto, com quase nula benevolência por parte de boa parte de políticos/decisores do país, em relação ao seu desenvolvimento mesmo que isso fosse de foro constitucional para a melhoria de desempenho das funções de capitalidade e do sistema de sua administração. Por isso apelamos que os decisores permitam, pelo menos, que a cidade possa se valer de outros mecanismos, designadamente da derrama municipal e de regimes especiais de aplicação de taxas (Lisboa obtém milhões com a taxa turística da cidade, por exemplo) e impostos municipais e de viabilização de alguns projetos estruturantes como forma complementar tais esforços de transformação das condições da capital do país. Adicionalmente a CMP deve aperfeiçoar os instrumentos/base na incidência de cobranças municipais de forma a independer-se de benefícios que em Santiago não estamos habituados e receber;

18. Na cultura para nós não há a recuperação de centro de artesanato e sua feira anual (proponho que fique no complexo de cultura e artes que deveria nascer no espaço do Parque 5 de julho/Sucupira) , o todo mundo canta (nascido e criado na Praia), o Fórum Cultural ( um magnífico edifício cultural que proponho vir albergar os maior eventos culturais da capital, do teatro, música de qualidade, dança e cultura criativa em geral e dava-se um novo destino ao atual Palácio de Cultura) no espaço que vagará da sucupira.

É absolutamente necessário salvar o principio de sustentabilidade ambiental, da estética e de condições de conforto na orla marítima e nos bairros da capital, salvaguardando, por exemplo de imediato condições para o efeito no Palmarejo onde na Praça já não há, pois aí creio que a orientação de tudo é, uma vez mais, para comércio, mas há aí ainda, alguns espaços (expropriem mas salvem Palmarejo, o maior bairro de C.Verde) onde equipamentos adequados devem substituir parte da selva de estruturas habitacionais e lojas, na Cidadela (ainda sem água, iluminação adequada e espaços públicos de lazer, conforto, verde) etc;

Sem esgotar as caraterizações do desespero dos santiaguenses, finalizo por ora com a situação que mais nos preocupa: os decisores (incluindo políticos, partidos, jornalistas e forças sociais nos seus postos de trabalho) não podem continuar no parlamento, nos governos e nos restantes fóruns a omitir a visão e os projetos e respectiva materialização na Praia e Santiago, pois sou obrigado e reconhecer que boa parte dos que foram votados por nós em Santiago não o merecem ser proximamente. Não nos preocupa o barulho dos eternos contra Santiago, mas nos enfurece e desarma o silêncio dos bem intencionados. Achamos bem que alguns políticos ao abordarem a visão e projetos das outras ilhas o façam com grande detalhamento e números; mas não posso concordar que não o reproduzam para caso de Santiago, tendo presenciado, recentemente, por exemplo, um dos governantes comunicar que Santiago Norte tem grandes potencialidades mas é a região com os piores indicadores de desenvolvimento; mas não evocou qualquer intervenção principalmente para o mar (parece ser proibido o desenvolvimento desse setor em Santiago), turismo, agronegócio para transformar essa realidade! Ademais: tornou-se moda Santiago ser apelidada de centralizadora e beneficiadora da assimetria regional quando a Praia e Santiago Norte estão no estado do piorio no arquipélago.

Parem de insinuar nos discursos a beneficiação de Santiago quando falam da assimetria regional e façam a justiça! Faço votos de um outro votar em Santiago e outra governação cá para a ilha!

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Redação