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A “dívida” e a “pilhagem de África”
Colunista

A “dívida” e a “pilhagem de África”

 

1. Numa busca de “espíritos de debate abertos” que permitam construir o futuro sem mitos, nem “pés de barro”, já é mais do que tempo de olhar para a África, mas a considerar também como se formata a relação do mundo exterior com o continente. Sendo certo que teria mesmo de ser longe de qualquer complexo colonial, ou vontade de retaliação em relação às antigas metrópoles, mas numa perspetiva salutar de olhar para os diversos ângulos do problema e sem qualquer tentação de menosprezar uns em detrimento de outros;

2. Acontece que, de quando em vez, surgem sinais que teimam em trazer de novo a ideia de que os únicos culpados pelo atraso de África são apenas os líderes governamentais africanos corruptos, egoístas e materialistas. Longe disso! Se há culpados – sim culpados, mas apenas para identificação e melhor definição de caminhos a seguir e não culpados para serem perseguidos e punidos – estes encontram-se dentro e fora de África!

3. As instituições, Estados, empresas e indivíduos que estiverem preocupados com os problemas de África, deverão fazer a sua quota parte e dar o exemplo, rediscutindo o modelo de ajuda para o desenvolvimento e introduzindo a noção de comércio justo na gestão dos seus negócios e, assim, libertar o continente das armadilhas em que vêm contribuindo para o meter. Não agir deste modo, é o simples adiamento com os mais diversos objetivos, exceto o de verdadeiramente ajudar essa parte de África constituída por países subdesenvolvidos, ainda longe de oferecerem as condições humanas mais básicas para os seus cidadãos. Há dois livros – entre muitos outros – que nos ajudam a entender um pouco a forma como o Mundo tira vantagens de África, não a considera com seriedade e continua a fazer os possíveis para eternizar o quadro atual de múltiplas dependências em que se encontra profunda e praticamente, irreversivelmente, emaranhado;

4. No sítio da Amazon na internet, há uma apresentação sobre a obra intitulada La dette odieuse de l'Afrique. Comment l'endettement et la fuite des capitaux ont saigé un continent [A dívida odiosa da África. Como o endividamento e a fuga de capitais fizeram a sangria de um continente]. Pode-se ler: “Em «A dívida odiosa de África», Léonce Ndikumana e James K. Boyce revelam o facto chocante de que, contrariamente à perceção popular de que a África está a sugar os recursos financeiros do Ocidente, o continente é de facto um credor líquido do resto do mundo. Ao longo das últimas quatro décadas, mais de US $ 700 bilhões de dólares debandaram dos países da África subsaariana. No entanto, os ativos de África mantidos no exterior são privados e escondidos, enquanto suas dívidas externas são públicas, devidas pelos povos africanos através de seus governos.”

5. Lê-se também na apresentação efetuada do livro “A pilhagem de África”, no sítio da VOGAIS, uma chancela da 20|20 Editora: “ÁFRICA é o continente mais pobre do mundo - e também o mais rico. (…) Em A Pilhagem de África, Tom Burgis, premiado jornalista do Financial Times, conduz o leitor numa viagem emocionante e frequentemente chocante aos bastidores de uma nova forma de colonialismo. Ao longo de seis anos, o autor abraçou uma missão através da qual se propôs denunciar a corrupção e dar voz aos milhões de cidadãos africanos que sofrem na pele esta maldição. Aliando um trabalho aprofundado de investigação a uma narrativa plena de ação, o livro traz uma nova luz sobre os meandros de uma economia globalizada e a forma como a exploração das matérias-primas africanas concentra a riqueza e o poder nas mãos de poucos.”

  • La dette odieuse de l'Afrique

https://www.amazon.com/dette-odieuse-lAfrique-lendettement-continent/dp/2359260227

  • A pilhagem de África

http://www.vogais.pt/livros/a-pilhagem-de-africa

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SOBRE O AUTOR

Francisco Carvalho

Político, sociólogo, pesquisador em migrações, colunista de Santiago Magazine