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O país, as pessoas e as coisas. Que liberdade, que valores?
Entrelinhas

O país, as pessoas e as coisas. Que liberdade, que valores?

Cabo Verde está a comemorar a semana da República. Ontem, 13 de janeiro, comemorou-se o dia da liberdade e da democracia. Corridas pelas ruas da capital e discursos na Assembleia Nacional marcaram oficialmente o dia. Antes, aconteceu um megajantar na cidade do Mindelo, onde 700 jovens terão participado, segundo nota da organização, ou seja, da JpD. Esses são os eventos oficiais já realizados!

Fora do campo oficial, ou melhor cá em baixo onde o cabo-verdiano labuta, sendo dia da liberdade e da democracia, os trabalhadores resolveram sair à rua para reivindicar melhores salários e melhores condições laborais.

Com o país a crescer acima dos 5%, segundo dados oficiais, os trabalhadores entendem que deve haver uma melhor repartição desse crescimento, sobretudo no rendimento das famílias, concretamente na mesa de cada cabo-verdiano.

Mas o governo e o partido que o sustenta têm entendimento diferente, ou seja, esse grupo entende que a manifestação dos trabalhadores se deve às birras políticas, associadas ao facto, hipotético, de hoje haver mais liberdade no país. Dito de outro modo, para o MpD e o governo, os trabalhadores cabo-verdianos estão a chorar de barriga cheia, alimentados pela intriga política e pelos encantos da liberdade.

Sendo o crescimento de que oficialmente se fala real e verdadeiro, então somos forçados a admitir que a manifestação dos trabalhadores cabo-verdianos ganha automaticamente legitimidade, sendo um ato natural de exercício da cidadania, a defender mais justiça social na repartição das riquezas que, dizem os dados oficiais, estão sendo gerados no país.

Cabo Verde regista uma longa e bonita história de superação, de luta e de conquistas. É um país com elevada autoestima e ciente dos seus limites e desafios.

O cabo-verdiano também é assim, como o seu país, persistente, corajoso, portador de uma capacidade ímpar para transpor barreiras e desafiar o impossível.

Filho de um país pobre, arquipelágico, seco, o cabo-verdiano cedo se percebeu que devia explorar o mundo para além do horizonte azul que lhe perdia de vista todas as manhãs, e se lançou ao mar, transportando consigo, no coração, na alma, essas pobres ilhas pelos quatro cantos do mundo.

Escravo, marinheiro, operário, emigrante, soldado, político, o cabo-verdiano soube sempre se definir e se posicionar face às diversas contingências que o destino lhe confrontara ao longo dos tempos, com sabedoria e sentido de nobreza.

Venceu a escravidão, o colonialismo, a fome, a seca, o abandono, a insularidade. Ganhou a independência, a liberdade e a democracia.

Lutando sempre!

Porque o cabo-verdiano conhece o seu valor, o ónus de ser independente e a decência da sua liberdade. Sabe o custo do seu país e distingue pessoas de coisas e coisas de pessoas. Conhece o preço da liberdade e jamais trocaria causas por coisas e coisas por causas.

Foto: Inforpress

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Redação