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O PAICV, a democracia e os desafios do futuro
Editorial

O PAICV, a democracia e os desafios do futuro

… estando o país a pouco mais de um ano das eleições gerais, a começar pelas autárquicas, a escolha da próxima liderança no PAICV, mais do que nunca, exige muita ponderação e sabedoria, para destrinçar entre o lobo e o cordeiro, a lebre e o gato. E aqui o povo do partido tem uma palavra forte para falar. Porque a democracia cabo-verdiana precisa de partidos políticos organizados e bem preparados para os desafios do futuro que se vislumbram um pouco sombrios entre nós.

Quando, em 2014, Janira Hopffer Almada se apresentou como candidata ao cargo de Presidente do PAICV, contava com poucos apoios na cúpula do partido. Grande parte da chamada elite estava com Cristina Fontes, tida como candidata de José Maria Neves, uma outra parte estava com Felisberto Vieira, e Janira Hopffer Almada praticamente se encontrava sozinha, apenas com uma ou outra figura das altas esferas, mas mesmo assim sem muita expressão nos órgãos de decisão da governação do país e do partido.

Este fenómeno chamou a atenção dos profissionais de comunicação social e da sociedade em geral. E, um belo dia, num debate televisivo entre os três candidatos ao trono que José Maria Neves ocupava, o jornalista que conduzia a sessão perguntou à Janira Hopffer Almada quem eram os seus apoiantes, já que ela não contava com o amparo das elites. A resposta foi clara e direta: o povo do partido.

Certamente, muitos terão pensado que a resposta da jovem candidata não passava de uma irrefletida e ingénua tirada de alguém que estaria ainda a dar os primeiros passos no espinhoso e ingreme caminho da política, mas não, foi, de facto, o povo do partido quem elegeu Janira Hopffer Almada para presidente do PAICV.

Na verdade, segundo os estatutos do PAICV, o presidente é eleito pelas bases, ou seja, o povo do partido, em eleições diretas e secretas. Realizadas as eleições e apurados os resultados, é então convocado o congresso para eleger os órgãos dirigentes do partido.

A eleição de Janira Hopffer Almada em 2014 veio mostrar o peso das bases, ou seja, o peso do povo do partido na formatação dos caminhos do futuro que este deve tomar. Ora, o povo do partido assume assim o estatuto de pedra angular na construção do grande corpo, que é o partido e os seus órgãos de direção.

Não existe democracia sem partidos políticos, pois são eles que inspiram, identificam e contextualizam os regimes democráticos.

Porém, para que tal seja possível, os partidos devem ser entidades organizadas, preparadas, vinculadas aos princípios da satisfação coletiva e da construção da felicidade das pessoas.

O PAICV vai a votos em janeiro que vem para eleger uma nova liderança, e, em fevereiro, será realizado o congresso para eleger os órgãos dirigentes. Esta é uma decisão saída do último CN do partido, realizado em julho desde ano. Antes deste encontro dos conselheiros tambarinas, a atual líder do partido já havia declarado, em vários fóruns, que não se apresentaria nas próximas eleições gerais que terão lugar em 2020 e 2021, sem primeiro passar pelo processo de relegitimação, ou seja, pelas eleições internas.

Neste quadro, e cumprindo os estatutos, decidiu-se pelas eleições internas em janeiro do ano que vem, onde tudo aponta que a atual líder irá defrontar José Sanches, deputado do PAICV eleito pelo círculo eleitoral de Santiago Norte.

Dos 44 anos de Cabo Verde independente, o PAICV governou 30. Este dado confere responsabilidades enormes a esse partido quando a conversa é o desenvolvimento do país, a governação, o bem-estar social, individual e coletivo.

Bem ou mal, o PAICV fundou as bases deste país, e tem sido um dos seus mais exemplares edificadores. São factos. E contra factos não há argumentos.

País pobre, insular, sem recursos naturais e assaltado pelo bipartidarismo, Cabo Verde corre sérios riscos no seu processo de desenvolvimento se os partidos políticos não souberem posicionar-se com sabedoria e sentido de estado na defesa daquilo que é essencial, concretamente a soberania nacional, os recursos estratégicos e o estado de direito, esconjurando todo e qualquer tipo de persuadições e oferendas imediatistas e conjunturais.

E aqui os partidos políticos jogam um papel fundamental. Nem o país, nem os partidos políticos devem deixar-se levar pelas aventuras. Não pode haver cheques em branco. Quem vem, tem que mostrar por que vem, com quem vem, o que é que traz. Sem isso, porta da rua serventia da casa. Diz o povo - e o que o povo diz é lei -, que de boas intenções está o inferno cheio.

Partindo desse pressuposto, estando o país a pouco mais de um ano das eleições gerais, a começar pelas autárquicas, a escolha da próxima liderança no PAICV, mais do que nunca, exige muita ponderação e sabedoria, para destrinçar entre o lobo e o cordeiro, a lebre e o gato. E aqui o povo do partido tem uma palavra forte para falar. Porque a democracia cabo-verdiana precisa de partidos políticos organizados e bem preparados para os desafios do futuro que se vislumbram um pouco sombrios entre nós.

A direção,

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