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Novembro… meu novembro
Cultura

Novembro… meu novembro

I

Mas como, meu Deus como? N’ondular da luz indecisa do meu celular um fino raio de sol, no final da tarde, insinuava-se-me com a tremular mistérios… mistérios porém, de fumo ténue de nuvens, e, monstros… monstros de bruma a aumentar a minha febre a cores, e, a roubarem às nuvens a minha e a nossa esperança na ingratidão d’outubro, sem chuva de pedras, mesmo que o diabo esteja nas pequenas coisas. Oh!... Os meus receios prateados; oh!… Os meus sonhos debalde, debalde até hoje, Dia da Festum Omnium Sanctorum, sem poder operar a transubstanciação eucarística.

II 

Oh! O medo sepulcral!... Os ecos que me vão chegar, em novembro, serão os melhores como um reconforto ou como uma casa feita por pensadas mãos de barros e o mistério desvendou-se-me escarlate por isso, eu nunca amaldiçoava a altivez da lua. Ah! Se Eu fosse milionário e Príncipe bonacheirões ergueria o meu castelo nas montanhas rochosas ladeadas por jardins pomposos com largas salas de baile e de janelas de mágicas vibrações abertas. Pedir-me-ia perdão aos Deuses e abria as janelas de par em par, ogivalmente, ao próprio vento. Ali, Eu milionário e Príncipe bonacheirões deixava crescer as unhas para ranhar as nuvens e parava sob um raio da lua imaginando e criando o silêncio nas trevas de fantasias vibrantes e dançava-me com os sapos e sapatos de Deuses. Depois, rumorejava-me também o meu segredo as árvores e aos secos ramos entre o vento. (Logo, as minhas ternuras, recordações, receios e arrepios de infância juntavam-se todos num buraco de uma agulha).

 III

Onde estou, meu Deus, onde estou? Para onde me querem levar-me… que vão fazer de mim… a que me irão obrigar? Não. Não partirei para a guerra, em novembro, onde não tenho nem generais, nem soldados, nem balas, nem carregadores, nem espingardas, nem quarteis e nem trincheiras. À minha porta batem! Viajar-me-ei num catamarã “expresso” que navegará nas vagas de marés cheias escalando, obrigatoriamente, em todas as ilhas. (Nessa viagem, lembrei-me do centenário da morte do Henrique, o médico, que é também escritor - Teixeira de Sousa - mesmo que nele existem traços e algumas nuances, e, Jorge Amado é Amado e Baiano, mesmo que as ações sejam de um bom contador de histórias). Na minha primeira viagem Contra Mar e Vento e do Capitão-de-Mar - e - Terra ancorei-me na ilha do Fogo e a partir de Xaguate vi fumarolas. Procurei o meu rosto. Entendi que a casa tinha olhos. A ilha olha-me ou o meu olhar olhando-a? O Ilhéu de Contenda conta histórias e abracei a minha ilha Entre Duas Bandeiras. (Logo, as minhas ternuras, recordações, receios e arrepios de infância juntavam-se todos num buraco de uma agulha).

IV

Oh! a ilha se sou o barco. Oh! o barco se sou a ilha. Viajar-me-ei pelas ilhas. E o azul é destas ilhas, os nossos olhos são também azuis destas ilhas. Envelhecemo-nos todos com motivo, com tempo. Eu como ilha e como barco. Apenas os seus olhos atuavam ainda na minha vida e nos meus sentidos e nas minhas recordações. Novembro… meu novembro.

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Redação